Eu tenho uma panca [pronto, eu tenho várias, mas hoje é só esta] com a segurança do meu filho.
Eu sou a mãe. Eu tenho obrigação de garantir que nada de mal lhe acontece. Esforço-me, tento protegê-lo deixando-o viver. Deixo-o cair e esfolar-se e dar cabeçadas, mas mantenho sempre ali a mão por perto, não vá o diabo tecê-las.
Noutro dia caiu do sofá e fez um enorme galo. Bateu com a cabeça no chão. Eu estava perto, fui avisando "vais cair, não faças isso" e, no fundo, eu sabia que mais cedo ou mais tarde as investidas de sobe e desce sofá acompanhadas de sono aos montes na hora da parvoeira que antecede o jantar iam resultar num "abre olhos". E assim foi. Tratei logo de por água fria, arnidol, no dia seguinte já mal se notava.
Depois, depois dei comigo a pensar. "Ó minha anormal irresponsável! E se o garoto caía mal e partia o pescoço?" Gelei. Paranóia? É capaz de ser, mas só de imaginar que ele podia ter tido consequências graves por causa de uma queda que eu podia ter evitado e não evitei, morri por segundos.
Não acho que seja um problema esta minha paranóia. Sempre fui assim com algumas coisas na minha vida. As coisas aconteciam e eu depois ficava a magicar nos "e se isto, e se aquilo". Nunca foi impeditivo de eu me sentir uma pessoa normal, com uma panca.
Depois há o segundo em que deixamos de o ver. Enquando dou um gole no café, ele desaparece atrás de uma cadeira. Pânico momentâneo. Dura 1 segundo, depois caio em mim. Mas e se mo levam? E se alguém mal intencionado se aproveita de 1 segundo de distracção? NÃO! Recuso-me. Quando saio sozinha com ele, redobro os cuidados, mas mesmo com o pai ou o avô, tenho sempre um olho no burro e outro no ciganito.
Depois há os momentos em que nós não estamos e aí, nada a fazer. Eles precisam de liberdade, de convívio fora do ninho e por muito que confiemos nas pessoas com quem os deixamos, podem acontecer exactamente as mesmas coisas que aconteceriam mesmo que estivéssemos com mil olhos em cima dele. Procuro não pensar muito nisso, mas quando ele não está comigo, há sempre uns milésimos de segundo em que o meu coração se desassossega.
Agora, o pior mesmo é pensar que o Duarte podia ser meu filho, sobrinho, afilhado, primo, amigo, vizinho. Estas coisas ACONTECEM mesmo. Há bebés que morrem, sim, a palavra correcta é morrer, por mais eufemismos que procuremos. Eu não posso imaginar a dor destes pais, com este desfecho depois de tantos meses de sofrimento, agonia e luta. Todos os dias há um milésimo de segundo em que o meu coração se aperta, às vezes só dou por isso quando abraço o meu filho com força sem saber muito bem porquê.
E é por isso que eu preciso de dar mesmo uma volta às minhas prioridades e deixar de perder tempo com merdas e pessoas que valem o que valem.
Já agora aproveito: se ainda não és dador de medula óssea, pensa nisso com carinho. Não dói nada!
3 comentários:
Lá em casa temos uma regra:
Prefiro que chores porque estás chateado comigo, que chores por teres caído!
Às vezes sua alteza real também se põe com aventuras e eu não deixo... vai logo para o castigo e fica ali a choramingar, muito infeliz...
Eu sabia que tu também tinhas uma PANCA! <3
Eu também tenho essa panca, não tão acentuada é certo... mas como já perdi demasiadas pessoas na minha vida, ainda tenho maior noção do que seria se o F. desaparecesse.
Um exemplo disso é eu nunca ter ido com o meu filho à piscina, por mais sugestões da minha prima M., que sempre o quis levar a dar uma nadadela... mas penso: e se ele escorrega? e se ao cair bate com o pescoço ou a cara na borda da piscina? e por aí fora!
O pior é que acho que a mães como nós, assim pró caguifentas, saem sempre rapazes destemidos!
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