sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Restrições alimentares

É uma chatice ter em casa alguém com restrições alimentares. Se for uma criança, pode parecer aparentemente mais difícil, mas eu diria que não.

O M. foi diagnosticado com alergia ao glúten e à clara de ovo. Hoje em dia, sabemos que a alergia não será propriamente ao glúten [ou não temos garantias que seja apenas a esta proteína], mas é claramente alérgico ao trigo, pelo menos. O diagnóstico definitivo é ainda algo confuso e a expectativa de que ele supere estas alergias é grande. Segue uma dieta isenta de glúten que, com os devidos cuidados de verificação de todos os rótulos, nos dá boas garantias de que não há acidentes. O ovo cozido já é tolerado. A clara crua [presente em sobremesas com claras em castelo, por exemplo] não é totalmente tolerada e, apesar da reacção só surgir após ingestão de uma quantidade significativa, não arriscamos dar-lhe.

O M. nunca comeu trigo, nem nunca comeu claras em castelo. Não é tão complicado como parece privá-lo desses alimentos, mesmo quando outras pessoas à volta os estão a comer. Ele sabe que não pode. Sabe que certos alimentos [e já identifica muitos] podem deixá-lo doente. Antes de provar algo que é desconhecido para ele, pergunta se pode.

Isto é meio caminho percorrido.

Depois temos outros problemas, mais chatos, diria eu.

1) Ir de férias, passar o fim-de-semana fora ou qualquer passeio que implique estar fora de casa pelo menos 24h podem ser uma grande chatice. Não entrando em muitos detalhes fastidiosos, dizer apenas a título de exemplo, que a maioria dos caldos "knorr" utilizados na confecção da maioria dos pratos [sopa incluída], na maioria dos restaurantes é composta por farinha de trigo e, logo, proibida. Isto faz com que eu ande sempre de "geleira" atrás e com que tenha de programar as refeições de uma forma muito menos espontânea do que gostaria.

2) Ter de lidar com terceiras pessoas [conhecidas e desconhecidas] que insistem em oferecer comida às criancinhas, passando por cima dos pais. Neste aspecto, sou completamente intransigente. Primeiro, quem decide o que o que meu filho come e em que horários sou eu [independentemente das restrições de ordem alérgica]. Depois, oferecer comida [mesmo sem ter conhecimento] a uma criança que não pode comer cria uma situação merdosa para a criança, para os pais [ou outros responsáveis naquele momento] e até mesmo para quem oferece. Por isso, lanço sempre o apelo: nunca ofereçam comida a uma criança directamente, sem confirmar discretamente com o pai/mãe/pessoa que acompanha a criança.

3) O social. Um convite para uma festa pode transformar-se numa carga de nervos, especialmente porque combina as dificuldades descritas em 1) e 2) numa mesma ocasião :P

4) O preço da alimentação sem glúten é de bradar aos céus. Ainda é tudo muito, muito caro em relação aos mesmos produtos não isentos. Variedade já se vai encontrando, mas a preços exorbitantes. Além disso, ir às compras ao supermercado transformou-se num suplício, tendo em conta que não entra nada no carrinho, cujo rótulo não seja lido de fio a pavio. Mesmo os produtos que já vamos conhecendo, dou sempre uma vista de olhos porque a qualquer altura o modo de produção pode ser alterado, de acordo com informações dos fabricantes. E não só comestíveis. Plasticinas e pastas de moldar, por exemplo, quase sempre levam liga de trigo. 

5) Adaptar a alimentação familiar. Não é complicado, mas a título de exemplo, se programar massa para o jantar, já sei que vou ter de cozer à parte para ele. Por um lado, não posso andar a comprar massa a 3,5€ cada meio quilo para gastar ao ritmo familiar. Por outro, não posso/quero retirar a massa do nosso leque de opções. Quem diz massa diz douradinhos, panados, filetes, enfim, tudo o que leve farinha [ok, sendo feito em casa, aqui posso substituir por maizena] ou pão ralado [que também pode ser comprado sem glúten, mas que fica num tal balúrdio que só mesmo fazendo à parte para ele]. Refeições prontas, nem pensar. As opções são muito limitadas e caras.

E acho que basicamente é isto. Hei-de dedicar-me a colocar aqui algumas sugestões de produtos de compra que vou encontrando, testo [testa ele :)] e recomendo [ou não].


8 comentários:

T zero disse...

Ufa!
Descrito assim, dá para ver que é um pincel...
:(

cuca disse...

Bolas! Que carga de trabalhos... És uma grande mulher. Desde que vi o teu apelo no ano passado para não dar comida às crianças sem autorização dos pais, que passei sempre a perguntar se posso oferecer. Lembro-me sempre das alergias e do caso do teu filho (mas mesmo que não seja alérgico convém sempre perguntar se podem oferecer!). Eu tenho um primo com 18 anos e desde sempre que faz análises com regularidade porque lhe surge uma alergia nova e a qualquer momento não pode comer isto ou aquilo.

Boa sorte e que as alergias desapareçam por completo. ;)

Lucente disse...

Sei bem o que é, não o teria dito melhor! Fico a agurdar as recomendações ;-)

Ni! disse...

Cuca!! Sempre disse que, se pelo menos uma pessoa se tornasse sendível a esta questão, já teria valido a pena fazer o apelo. Obrigada :)

Lucente: em breve começo a colocar sugestões :)

Obrigada a todas

Naná disse...

É mesmo uma logística complicadíssima...

Resta-te aguentar o barco e esperar que idade vá apaziguando a alergia!

Dreia disse...

Isso é que é organização ao pormenor! Estás de parabéns querida!

Tanita disse...

É uma gestão mental e financeira mesmo complicada.
Há poucos anos tive conhecimento de um colega de faculadade que é celíaco. Ignorância minha, antes de ele me explicar nem sabia o que era isso. E lembro-me de o ver sempre lanchar um chocolate.
Depois explicou-me que o simple facto de a mãe fazer por exemplo um prato no forno que leve pão ralado, o dele tinha de ser cozinhado primeiro, porque ficam residuos se for ao contrário e pode contaminar o prato dele.
Disse-me que já tinha provado pão e pizzas e não sabia como é que podiamos gostar :)
É mesmo uma questão de educação, mas concordo que seja cansativo, embora o faças de certeza com todo o cuidado do mundo.

Ly* disse...

Realmente... Não deve ser muito fácil de gerir. O que vale é que, normalmente, as mulheres são super mulheres e conseguem dar conta do recado :)