A minha participação em manifestações começou no 15S. O que me movia? O facto de se tratar de uma manifestação espontânea, apartidária, sem a chancela dos sindicatos. O facto de ver o cerco a apertar e não ficar de consciência tranquila sentadinha no sofá.
Foi quem quis. Eu fui, na minha cidade. As coisas foram um pouco amenas por aqui e quando cheguei a casa e vi as imagens de Lisboa, chorei. Juro. Aquilo comoveu-me, aquilo fez-me sentir vontade de lá estar, uma vontade genuina de juntar a minha voz àquelas vozes.
Participei em todas as outras manifestações convocadas que me foi possível. Todas de menor expressão, é certo, mas com a mesma vontade.
Entretanto, passaram-se meses. A situação que já era dramática no 15S é agora... trágica. Está convocada nova manifestação de cidadãos para 2 de Março. E eu irei novamente.
Não sei que expectativa ter. Vivo cada vez com mais medo. Medo do mês que vem.
Vou por mim, pelo meu filho, por nós três, pelo meu pai, pelos meus avós. Vou pelos que têm os seus postos de trabalho em risco. Vou pelos que têm trabalho, mas não recebem. Vou pelos que já não têm postos de trabalho. Vou pelos que ainda não têm. Vou pelos que perderam e ficaram perdidos nas estatísticas. Vou pelos que passam fome e frio. Vou pelos que vivem a angústia de não conseguir alimentar os filhos. Vou pelos que deixam iogurtes na caixa do super mercado porque o dinheiro que traziam não chegou para tudo. Vou pelos velhos doentes que vivem na miséria. Vou pelos que não conseguem pagar a taxa moderadora de uma consulta. Vou pelos que não podem sequer equacionar consultar um especialista. Vou pelos desesperados, pelos indiganados, pelos injustiçados. E vou com a consciência de que já faço parte desta lista, algures. De que hoje ainda não tenho o frigorífico vazio, mas amanhã não sei. De que o pior não passou, nem pouco mais ou menos. Mas também vou porque quero um país limpo, justo, onde se compense o mérito e se puna exemplarmente a corrupção, o enriquecimento ilícito, a gestão danosa e tantos outros cancros que nos matam todos dias.
2M. Eu vou!