É uma chatice ter em casa alguém com restrições alimentares. Se for uma criança, pode parecer aparentemente mais difícil, mas eu diria que não.
O M. foi diagnosticado com alergia ao glúten e à clara de ovo. Hoje em dia, sabemos que a alergia não será propriamente ao glúten [ou não temos garantias que seja apenas a esta proteína], mas é claramente alérgico ao trigo, pelo menos. O diagnóstico definitivo é ainda algo confuso e a expectativa de que ele supere estas alergias é grande. Segue uma dieta isenta de glúten que, com os devidos cuidados de verificação de todos os rótulos, nos dá boas garantias de que não há acidentes. O ovo cozido já é tolerado. A clara crua [presente em sobremesas com claras em castelo, por exemplo] não é totalmente tolerada e, apesar da reacção só surgir após ingestão de uma quantidade significativa, não arriscamos dar-lhe.
O M. nunca comeu trigo, nem nunca comeu claras em castelo. Não é tão complicado como parece privá-lo desses alimentos, mesmo quando outras pessoas à volta os estão a comer. Ele sabe que não pode. Sabe que certos alimentos [e já identifica muitos] podem deixá-lo doente. Antes de provar algo que é desconhecido para ele, pergunta se pode.
Isto é meio caminho percorrido.
Depois temos outros problemas, mais chatos, diria eu.
1) Ir de férias, passar o fim-de-semana fora ou qualquer passeio que implique estar fora de casa pelo menos 24h podem ser uma grande chatice. Não entrando em muitos detalhes fastidiosos, dizer apenas a título de exemplo, que a maioria dos caldos "knorr" utilizados na confecção da maioria dos pratos [sopa incluída], na maioria dos restaurantes é composta por farinha de trigo e, logo, proibida. Isto faz com que eu ande sempre de "geleira" atrás e com que tenha de programar as refeições de uma forma muito menos espontânea do que gostaria.
2) Ter de lidar com terceiras pessoas [conhecidas e desconhecidas] que insistem em oferecer comida às criancinhas, passando por cima dos pais. Neste aspecto, sou completamente intransigente. Primeiro, quem decide o que o que meu filho come e em que horários sou eu [independentemente das restrições de ordem alérgica]. Depois, oferecer comida [mesmo sem ter conhecimento] a uma criança que não pode comer cria uma situação merdosa para a criança, para os pais [ou outros responsáveis naquele momento] e até mesmo para quem oferece. Por isso, lanço sempre o apelo: nunca ofereçam comida a uma criança directamente, sem confirmar discretamente com o pai/mãe/pessoa que acompanha a criança.
3) O social. Um convite para uma festa pode transformar-se numa carga de nervos, especialmente porque combina as dificuldades descritas em 1) e 2) numa mesma ocasião :P
4) O preço da alimentação sem glúten é de bradar aos céus. Ainda é tudo muito, muito caro em relação aos mesmos produtos não isentos. Variedade já se vai encontrando, mas a preços exorbitantes. Além disso, ir às compras ao supermercado transformou-se num suplício, tendo em conta que não entra nada no carrinho, cujo rótulo não seja lido de fio a pavio. Mesmo os produtos que já vamos conhecendo, dou sempre uma vista de olhos porque a qualquer altura o modo de produção pode ser alterado, de acordo com informações dos fabricantes. E não só comestíveis. Plasticinas e pastas de moldar, por exemplo, quase sempre levam liga de trigo.
5) Adaptar a alimentação familiar. Não é complicado, mas a título de exemplo, se programar massa para o jantar, já sei que vou ter de cozer à parte para ele. Por um lado, não posso andar a comprar massa a 3,5€ cada meio quilo para gastar ao ritmo familiar. Por outro, não posso/quero retirar a massa do nosso leque de opções. Quem diz massa diz douradinhos, panados, filetes, enfim, tudo o que leve farinha [ok, sendo feito em casa, aqui posso substituir por maizena] ou pão ralado [que também pode ser comprado sem glúten, mas que fica num tal balúrdio que só mesmo fazendo à parte para ele]. Refeições prontas, nem pensar. As opções são muito limitadas e caras.
E acho que basicamente é isto. Hei-de dedicar-me a colocar aqui algumas sugestões de produtos de compra que vou encontrando, testo [testa ele :)] e recomendo [ou não].